segunda-feira, 26 de outubro de 2009




Depois que li aquele livro “O corpo fala” descobri que tudo em mim quer me revelar, cada fala ou gesto tem sempre algum significado, não só em mim, mas em todos nós.
O que essa obra ensina é treinar nossos olhos para reconhecer esses sinais que como diria Djavan “me confundem da cabeça aos pés, mas por dentro eu te devoro”.
Porque tudo que está na superfície de qualquer ser humano é só uma referência, uma miragem. Quem vê cara não vê coração, é preciso de no mínimo dez encontros para se começar a ter idéia de quem é o outro. A primeira impressão pode ficar, mas ela se modifica. É transformada pelo cheiro, mas também pela cor da roupa, é alterada pelos tons da voz, pelos sorrisos, pelas mancadas ou pelos apoios. Todo ser humano é complexo demais para a gente achar que só com a primeira impressão já sabe tudo sobre ele.
E o contrário também pode ser verdadeiro porque as pessoas podem sempre nos surpreender, quem diria que ela, toda certinha, quase uma santa te traísse ou então que ele, um galinha, sempre te dando bolo, te enganado e deixando o celular desligado num belo dia te pede em casamento e anos mais tarde torna-se um fiel marido e leal pai de seus filhos. As pessoas mudam.
Porque aquele que se equilibrava nos meios fios da rua, matava passarinho com estilingue e vivia indo pra diretoria do colégio hoje é um respeitável cidadão de bem que tem seu emprego, conta no banco, carro, família para sustentar e usa camisa social engomadinha de segunda a sexta.
Ou ela, sabe aquela menininha que mais parecia um moleque porque vivia sujinha na rua, jogava bola com os meninos, brincava de boneca e foi uma adolescente problema? Pois é hoje ela é mãe, profissional respeitada, tem jornada dupla, enfim é uma mulher moderna que precisa se desdobrar em duas ou três e ainda encontra um momento para pensar em si mesma e ser feliz.
As pessoas mudam, por força do tempo ou por necessidade de se adaptar ao mundo que está eternamente se renovando. Mudam porque querem se sentir livres e ser surpreendidas por si mesmas.Essa história de mudança não poderia deixar de citar Edson Marques e seu poema, uma ode a transformação: “Mude, mas comece devagar,porque a direção é mais importante que a velocidade.Sente-se em outra cadeira, no outro lado da mesa.Mais tarde, mude de mesa.... aprenda uma palavra nova por dia numa outra língua.Corrija a postura.Coma um pouco menos, escolha comidas diferentes, novos temperos, novas cores, novas delícias....Tente o novo todo o dia... Repito por pura alegria de viver : a salvação é pelo risco,sem o qual a vida não vale a pena !!!”
É possível mudar e ainda sim conservar a mesma essência, aquela que nos mantém casados aos amores de nossas vidas ou então leais aos nossos amigos de sempre. A atitude deve mudar quando já não nos trás mais satisfação e o que se mantém é justamente as características que deram certo.


Ninguém perde a própria identidade se um dia resolver ser uma pessoa melhor do que era antes.


Irreconhecível fica quem prefere ficar como diria Raul Seixas em sua canção : “com aquela velha opinião formada sobre tudo”.As pessoas vão falar e lembrar de você por aquilo que você tem de mais marcante.E se for algo positivo será melhor.
Por isso nunca posso acreditar somente nos seus olhos.


Por isso as vezes sinto que embora eu possa mudar eu não deva mudar.







Vício e virtude representam para o artista a matéria prima da sua arte".
(Oscar Wilde)

Admirar a minha imagem em uma fotografia, tal qual um impávido Narciso, é como olhar no espelho, aquela imobilidade da minha figura torna-se poesia, aquele instante foi congelado, venceu o tempo, é um eterno passado, a minha existência, quando não estiver mais aqui, estará impressa provando que um dia eu existi.

O meu retrato será como uma flâmula, um lábaro iluminado por um raio vívido .
Esta ultima foto que tirei, à luz do céu me lembrou “O retrato de Dorian Gray”, belíssimo livro de Oscar Wilde que um dia a Pastora de Nuvens leu e me contou a história: Dorian Gray era um belo rapaz que posa para um amigo que é pintor: Basil Hallward. O retrato fica belíssimo e ao vê-lo Dorian exprime o desejo de que o quadro pudesse envelhecer e ele continuar eternamente com seu rosto jovem. Mal sabe ele que seu desejo é atendido e que sua vida sofrerá muitas mudanças.Dorian se torna egoísta, devasso e mau. No entanto, seu rosto continua com os traços angelicais dos seus 18 anos. Quando Dorian descobre que seu desejo foi atendido e o retrato está se transformando, o livro ganha mais ação.
A descoberta do quadro é um momento sublime. Só ao ver estampado na pintura todas suas experiências de vida, Dorian percebe tudo o que fez na vida. Seus questionamentos são longos e Oscar Wilde descreve seus traços psicológicos de forma muito elaborada: seus conflitos, desejos, sua visão de mundo.É um livro que nos faz pensar sobre a juventude, o valor da beleza na sociedade, a vaidade e o caráter das pessoas.
Eu quando escrevo sobre mim fico “pelado na vitrine”, não por exibicionismo, mas porque tenho a consciência que o que sou também é o que muita gente é, um ser humano em busca de autoconhecimento e um sentido para a vida.
O meu retrato não é como o de Dorian, embora eu também tenha os meus pecados, mas foi um dia .. amar mais que ser amada rs
Viver mais e sonhar menos hehehe pra mim impossivel...meus maiores pecados .
E quem pensa se angustia ou se extasia, vive a realidade ou viaja em fantasia, pensar sobre si diante da natureza e se integrar ao universo, porque o tempo todo nos sentimos a parte, a revelia, distantes como uma ilha perdida no oceano.Dorian pediu para que a ordem se invertesse, para que a foto envelhecesse ele permanece jovem.
Mas o meu pedido não é esse, não me importo de envelhecer, apenas quero ter história, ser lembrada e até mesmo esquecida,mas que eu permaneça, ainda que incógnita na memória das pessoas que cruzaram e que eu cruzei o caminho.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Jeito de Mato
Paula Fernandes

De onde é que vem esses olhos tão tristes?
Vem da campina onde o sol se deitaDo regalo de terra que o teu dorso ajeitaE dorme serena, no sereno sonha
De onde é que salta essa voz tão risonha?Da chuva que teima, mas o céu rejeitaDo mato, do medo, da perda tristonhaMas, que o sol resgata, arde e deleita
Há uma estrada de pedra que passa na fazendaÉ teu destino, é tua senda, onde nascem tuas cançõesAs tempestades do tempo que marcam tua históriaFogo que queima na memória e acende os corações
Sim, dos teus pés na terra nascem floresA tua voz macia aplaca as doresE espalha cores vivas pelo arAh..Ah...Ah...Sim, dos teus olhos saem cachoeirasSete lagoas, mel e brincadeirasEspumas ondas, águas do teu mar
..Ah...Ah...Ee La Ia

 Só envelhece quem não tem sonhos. Quem se deita sem um sorriso. Quem deixa de acreditar em novos começos e histórias.  Quem deixa de querer...