terça-feira, 28 de agosto de 2018

Trecho manual.para nao.morrer de amor.

Esse trecho.nao.posso deixar de compartilhar e ficar quietinha a la Rosane Ribeiro
Walter Riso – Trecho do livro: Manual para não morrer de amar




Conflito insuportável, desgastante. Faz tempo que você tenta se acomodar a uma contradição que o envolve e revolve, sobe e desce: “Sim, mas não”. “Não, mas sim.” Um amor inconcluso, que não é capaz de definir a si mesmo, pode durar séculos: quando você está ao meu lado fico entediado, canso-me, fico estressado, e quando está longe, não posso viver sem você, sinto sua falta, preciso de você.

Que pesadelo! Como lidar com tamanho curto-circuito e não ser eletrocutado? Tamanha contradição, sem se asfixiar? Essa dúvida metódica sobre o que se sente, que nem sempre se expressa claramente, funciona como a areia movediça: quanto mais força fazemos para sair, mais ela nos suga. As pessoas vítimas desse amor fragmentado e indefinido, sob o efeito do desespero, tentam resolver a indecisão do outro investigando as causas, dando razões, mudando sua maneira de ser, enfim, fazendo e desfazendo a confusão, confusão, sem muito resultado.
A razão do fracasso é que os indivíduos que sofrem do “nem com você nem sem você” se imobilizam e ficam girando em círculos, às vezes por anos. Na proximidade, a baixa tolerância à frustração ou a exigência irracional as impedem de ficar bem com a pessoa que supostamente amam, e, na distância, os ataques de saudade minimizam o que antes lhes parecia insuportável.

Um paciente tinha uma namorada que morava em outra cidade e a via a cada dez ou quinze dias. Como uma síndrome, cada encontro acabava em uma guerra campal e cada despedida em um adeus torturante, repleto de perdões e boas intenções. Em uma sessão, perguntei-lhe por que não acabava de uma vez por todas com tamanha tortura, e ele respondeu: “Eu sei que não é normal. Quando estou com ela, não consigo me conter e a infernizo. Nesses momentos, acho que preciso de alguém melhor e estou disposto a terminar, mas não consigo. Quando nos despedimos, eu fico muito triste, os poucos momentos agradáveis que tivemos pesam muito. Depois, nos ligamos vinte vezes ao dia, dizemos que nos amamos,  que não podemos viver um sem o outro, e é tudo assim, como um carma que se repete sem parar”.

 A conclusão de seu relato foi, no mínimo, surpreendente: meu paciente não amava sua namorada, mas sim sua ausência! Apaixonado por um fantasma que se portava como um demônio. Insisti novamente: “Por que não acaba com tudo isso e se dá a oportunidade de encontrar alguém a quem possa amar 24 horas por dia, sem tantas flutuações?”. Sua resposta: “Sinto que nunca dei uma oportunidade à relação”. Minha pergunta: “São quatro anos, não foi suficiente?”. O homem ficou mais dois anos nesse inferno, até que conheceu uma pessoa na cidade onde morava; porém, o “nem com você nem sem você” em pouco tempo voltou a se manifestar.

 O problema não era a distância, mas sua maneira distorcida de amar. Cada vez que se apaixonava, dois esquemas surgiam e interagiam: o medo do compromisso e o apego sexual. O “quero” e “não quero” oscilavam entre o pânico de estabelecer uma relação estável e o desejo desmedido. Obviamente, ele não tinha consciência do que acontecia, e só conseguiu nivelar-se após vários meses de terapia.
Você está em uma situação parecida? Já esteve? Se não, não cante vitória, porque qualquer um pode se envolver em uma relação dessas. Os indecisos afetivos andam pela rua, rondam seu espaço e, infelizmente, é possível que mais de um se interesse por você. A premissa que você deve incorporar a sua mente e que depois vai operar como um fator de imunidade é a seguinte: Se alguém tem dúvidas se me ama, não me ama. Curto e grosso. Não me venham com conversa mole: os apaixonados de verdade têm que ser detidos, não empurrados. Gibran afirmava em sua sabedoria: “O amor e a dúvida jamais se darão bem”.

E é verdade: se ele se cansa com sua presença, para que você volta? Se ela tem tantas dúvidas neuróticas, por que não se afasta até resolvê-las? Um jovem mandou o seguinte e-mail a sua namorada “nem com você nem sem você”, que o estava enlouquecendo: Sua indecisão, felizmente, não me contagiou. Eu sei o que quero, quero você. Mas a quero disposta, segura, comprometida, feliz por eu estar em sua vida, em vez de me tratando como se eu fosse um problema. Como você não sabe o que quer, trate de se definir; eu, enquanto isso, vou sair com outra. Quando estiver pronta, ligue-me e vamos ver se estou disponível ou não. Não quero mais saber de suas dúvidas; é você quem as deve resolver, não eu.

Imediatamente, como era de se esperar, a garota ativou o “nem sem você”, e então suplicou, chamou, jurou e prometeu fazer o que fosse, mas, felizmente, o jovem não deu o braço a torcer. Seu argumento era simples: “Não acredito”.
Um mês depois, ela continuava com sua dúvida metódica (não havia mudado nem um fio de cabelo), enquanto ele já estava envolvido com uma mulher menos insegura e mais coerente.

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