quinta-feira, 19 de julho de 2018

Amores de alto risco

Trecho do livro de Walter Riso - Amores de alto risco - Sugestão de leitura para todas vocês.

Amar uma pessoa histriônico-teatral é se deixar levar por um furacão de grau cinco. Algumas das suas características são: querer ser sempre o centro das atenções, ser excessivamente emotiva, mostrar comportamentos sedutores, cuidar de forma exagerada do aspecto físico, adotar atitudes dramáticas e impressionistas, ver intimidade onde não há e ser muito intensa nas relações interpessoais (em especial quando há amor no meio). As pessoas que têm essa maneira de amar desenvolvem um ciclo amoroso com mau prognóstico. No princípio, as suas relações afetivas estão impregnadas de uma paixão frenética e fora de controle e, depois, como numa queda livre, costumam terminar os relacionamentos de maneira drástica e tormentosa. O amor histérico não só é sentido, mas também é carregado e suportado, porque, ao exigir atenção e aprovação durante as 24 horas do dia, a relação se torna esgotante. Como viver bem com alguém que nunca está afetivamente satisfeito?

Jorge conheceu Manuela na universidade e sentiu-se arrebatado por ela desde o primeiro instante: era jovem, sexy e alegre. Todos os homens a desejavam, e isso não a desagradava em absoluto; ao contrário, procurava ser o centro das atenções e exercia um forte magnetismo sobre o sexo oposto. Divertia-se com os homens como o gato com o rato: se exibia, os provocava e, logo, que ele seja mais carinhoso e que me dedique mais tempo... Gostaria de vê-lo mais ligado a mim”. Por outro lado, Jorge desejava que ela fosse mais sóbria e menos exibida, e também queria melhorar as relações sexuais: “Ela não gosta de sexo, não é o que aparenta... Na verdade, não me sinto desejado... Acho que é frígida ou algo assim...”. No começo da relação, ingênuo, Jorge havia pensado que Manuela só manifestava o comportamento sedutor com ele, mas quando descobriu que o flerte e o exibicionismo eram parte do seu modo de ser, sentiu um misto de medo e desilusão. Ele tentou fazê-la mudar o estilo provocante de se vestir e o modo de se relacionar com os outros homens, mas não conseguiu.

O caso teve um final surpreendente: Manuela o deixou por um de seus melhores amigos. Numa consulta, me disse: “Estou apaixonada de verdade! Falamos em casamento; ele é maravilhoso!”. Quando perguntei por Jorge, o namorado por quem chorava havia apenas algumas semanas, respondeu: “Ah, o Jorge... Não sei, isso já passou... Agora estou tão feliz!”. Como se fosse uma febre ou uma doença, Jorge não mais existia na memória emocional de Manuela, que o tinha apagado de seu disco rígido como quem elimina um vírus.

Diferentemente do que se costuma pensar, o estilo histriônico não é exclusivo das mulheres. A cultura pós-moderna fez
com que um número considerável de homens entrasse no jogo exibicionista. Basta ir a uma danceteria da moda para encontrar um mundo “histeroide” no qual tanto os homens como as mulheres fazem alarde dos seus mais encantadores atributos. Homens de pele bronzeada e hidratada, roupa de grife, acessórios chamativos, olhares sugestivos e músculos à mostra fazem o deleite de um sem-número de belas damas que estão na mesma onda: os lindos com as lindas, no compasso de um grupo de pavões cujo cortejo se torna cada vez mais barroco. Sexo? Não necessariamente. Na filosofia do “histeriquismo”, atrair pode ser mais excitante do que fazer sexo; provocar paixão, mais impactante do que se apaixonar; se iludir e fantasiar, mais estimulante do que telefonar; sentir, muito mais vantajoso do que pensar. Borboleteios e voyeurismo às avessas: o ocaso da sensibilidade. Olha-se, mas não se toca, ou se chega a tocar, é na superfície. Uma subcultura que gera ereções em cadeia e paixonites discretas, cada vez mais inacabadas.



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